"Joal" in Santa Barbara

Thursday, February 01, 2007

Portugal: o Vietname da Europa

Já não é preciso procurar mais a frase do ano. Ainda estávamos em Janeiro e o ministro Manuel Pinho brindou-nos com a definição do modelo económico português. Uma das vantagens dizia ele é que em Portugal os salários são mais baixos que a média europeia e têm menor pressão para aumentar.

Essa frase levanta-me algumas questões. Em primeiro lugar, como referi, define o modelo económico português. O governo, e Portugal em geral, parece que não se apercebeu que os tempos mudaram (as fronteiras estão mais abertas que nunca, o movimento de capitais, bens e pessoas é o mais livre de sempre, o que torna a política económica baseada em proteccionismos inútil) e que, surpresa, estamos dentro da União Europeia.

A União Europeia, ao contrário do que a classe política e grande parte do povo pensa, não se resume a uns tipos no norte da Europa a derramar dinheiro em cima dos pobres, com uns xico-espertos a se abotoarem com o que podem (assim ao estilo dos aviões da ONU a largar comida no Darfur). Consiste num contrato com direitos e deveres, oportunidades que se podem apanhar ou não e que não estarão disponíveis para sempre. Infelizmente muitas delas já passaram e não voltam.

Uma vez mais: nesta última década Portugal basicamente definiu-se como um pais de Terceiro Mundo.

Voltando ao modelo português. Uma vez dentro da União Europeia, esta era a oportunidade perfeita para alterar fundamentalmente o modelo económico português: passar de um modelo de baixo valor acrescentado, baseado em salários baixos, para um modelo que privilegie um maior valor acrescentado, que comporte por via disso a capacidade de suportar salários mais elevados. Sucintamente, não se pode esperar receber salários ao nível dos que se recebem na Alemanha a produzir o que se faz na Turquia.

Mais, basear-se em salários baixos nem garante nada. É perguntar ao trabalhadores na Azambuja o que eles pensam da fábrica da GM ter sido deslocada para Espanha onde os salários são mais elevados.

O "problema" com esta re-definição do modelo económico é que por um lado demora mais tempo. A capacidade de reconverter a mão de obra demora, a reconversão do modelo de ensino só teria resultados em 10/15 anos. Alterar as leis laborais, a relação do Estado com as pessoas (e das pessoas com o Estado), não seria facil, dá-se de barato, E faltou coragem para um governo arriscar as eleições se pusesse o modelo em marcha.

Regressando ao ministro Pinho. Esta frase levanta uma perguntas:

Porque é que aos Chineses vai interessar um país com salários baixos? Isso já eles têm. O que é que viriam cá fazer?

Se essa é a nossa vantagem comparativa, porque não instituir políticas que baixem ainda mais os salários? Que tal re-introduzir o trabalho infantil? Fazer escolas nas fabricas? Reduzir a escolaridade obrigatória para o sexto ano?

Ainda hoje, alguém dizia que o ministro Pinho não devia ser criticado por apenas e só dizer a verdade e caracterizar a realidade económica do país. A questão não é se ele disse a verdade ou não. A questão é que quem teria a função de implementar políticas que definam o modelo económico português, parece conformado (para não dizer satisfeito) com o modelo que gere e ajuda a manter. Do estilo: "este é o modelo que temos e é o modelo em que vamos apostar".

O drama é que não se vê saida para o novo estagio de desenvolvimento e que este está perfeitamente esgotado. Mas ninguém com responsabilidades se parece importar com isto.

Em resumo, Portugal poderia ser a Califórnia da Europa. Afinal não passaremos do Vietmane da Europa. Só se espera que alguma alma iluminada não decida apostar no turismo sexual, para recebermos também a escumalha da Europa (oops! Isso também já temos na Madeira...)

PS: Apenas mais uma questão acerca da viagem do Sócrates à China. Durante a estadia na China, o Presidente, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Ministro da Energia, entre outros, estão fora da China. Foram visitar alguns países africanos (entre os quais Moçambique).

O governo português foi lá fazer o quê? Falar com quem? Sobre o quê?

Ou apenas foi fugir da campanha para o referendo?

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